Pantea: A duquesa das trevas

A história de uma das personagens principais de uma ambientação de RPG.

Nuvens e estrelas

A narração deste conto é feita por um personagem chamado Zerah Sol Negro, considerado um traidor dos luminos, a raça da luz à qual também pertence. Ele conta a humanos sobre Pantea, sua aliada e principal líder contra as ações imperialistas de seu povo, os luminos, que pretendem reivindicar a Terra.

A história que vos conto é a saga de uma mulher da tribo das trevas, nascida em Numina, um mundo tão distante deste sistema solar que, mesmo viajando a uma velocidade próxima à da luz, exigiria décadas para ser alcançado.

Seu povo foi o primeiro dentre os gunídeos, nossa espécie, que guarda semelhanças aos humanos. Em razão de nossa mitologia, acreditava-se que nos originamos de uma planta mágica chamada guna. Esta germina na lama obscurecida dos lagos e se desenvolve até alcançar e superar a superfície da água, desabrochando nas sagradas flores de guna.

Dizem os nossos manuscritos sagrados mais antigos que, quando a tribo das trevas surgiu, os céus não podiam ser vistos, pois uma densa camada de nuvens encobria toda Numina. Os ancestrais de Pantea tiveram que sobreviver em um mundo hostil, dominado pela escuridão e a penumbra.

No início de nossa história o mundo era também governado por criaturas poderosas como os dragões e demônios. Assim, a adaptação dos nychtar se deu em meio a constantes lutas e riscos iminentes de extermínio de toda a população.

A pele e os cabelos dos nychtar são pretos como a noite, seus olhos tem a íris em um pálido prateado. Milênios de lutas tornaram seus corpos os mais resistentes e poderosos dentre os gunídeos.

As fêmeas nychtar, que tiveram de se adaptar a gestar sua prole em meio a lutas críticas pela sobrevivência, desenvolveram capacidade de regeneração incomparável a dos machos, embora estes sejam mais robustos.

Após uma longa era, a tribo das trevas estabeleceu uma sociedade guerreira, patriarcal e com capacidade de suportar e revidar às hostilidades de outras criaturas. Este processo, no entanto, não ocorreu sem traumas.

Embora as fêmeas tenham acompanhado os homens nas batalhas ancestrais, os mesmos as suplantavam em tamanho e força. O primeiro imperador nychta, Rinalk, realizou uma nova organização social que submetia às mulheres, destinando-as à reprodução e trabalhos penosos, alegando que era sua “natureza”, ante sua maior capacidade de suportar a dor e da propriedade de regeneração corporal.

Evidentemente houve resistência, mas as mulheres foram subjugadas pela força dos homens seguidores do Primeiro Imperador das Trevas e os ideais dessas guerreiras foi eficientemente combatido pela força e por ideologias religiosas, moralistas e pseudocientíficas a respeito do papel reservado à fêmea para a manutenção da espécie.

Muitas mulheres foram castigadas, mortas e torturadas no processo. Mas, embora tenham sido submetidas a um papel secundário na organização social, diferentemente do que ocorreu na história da espécie humana, não lhes foi inteiramente retirado o direito de produzir e obter conhecimentos a respeito da natureza.

Isso se deve ao caráter mítico da astronomia para as mulheres das trevas. Conta-se que o primeiro gunídeo a observar um astro foi uma mulher nychta, chamada Astrea.

As lendas declaram que Antarsia, o deus dragão das sombras, compadeceu-se das mulheres nychtar e arrefeceu as névoas que encobriam o mundo pela primeira vez. Astrea, então, viu pela primeira vez, durante a noite, o brilho encantador de uma estrela, a mais brilhante do firmamento noturno de Numina, que vocês humanos conhecem por Vega.

Para Astrea, Antarsia e os demais deuses lhes deram a missão maior de seu povo: alcançar os astros e viajar pela escuridão do firmamento. A astronomia tornou-se, assim, um dos conhecimentos mais caros e venerados pelas mulheres ancestrais daquele povo.

Milênios se passaram desde o primeiro império dos nychtar. Após o fim da idade das névoas, surgiram os ígneos, geos, aeros, hidros e luminos, gunídeos que estabeleceram uma hegemonia sobre as outras espécies por toda a Numina, prevalecendo sobre os dragões, demônios e demais raças que os ameaçavam.

Foi na era das batalhas pela hegemonia gunídea em que Pantea nasceu. Ela possuía ascendência da linhagem das estrelas e da linhagem das trevas, povos nychtar que descendem respectivamente das tribos de Astrea e de Rinalk.

Embora a guerra fosse um domínio masculino em sua época, teve que aprender o ofício do combate desde jovem, visto que a maior parte dos homens de sua cidade natal foram exterminados pelas legiões da imperatriz demônio do sul, Agrat.

Mesmo que não fosse comum uma fêmea ter autorização para liderar tropas nychtar à época, recebeu permissão do principado das trevas para ocupar cargos de liderança entre as tropas ígneas, fortes aliados que elevaram sua tecnologia militar, por meio de seus conhecimentos avançados em metalurgia.

Na aliança com os ígneos, Pantea ganhou destaque por sua força, agilidade, liderança e inteligência, mas, acima de tudo, por sua habilidade de lidar com os animais e montá-los, razão pela qual veio a se tornar líder da cavalaria ígnea da aliança.

Os bardos de seu povo fizeram versos sobre sua empatia com os animais e sobre sua espada de aço ígneo ceifadora de demônios.

Continua...

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