Lucrécio

Prefácio de Albert Einstein sobre a introdução à Lucrécio.

Titus Lucretius Carus (c. 94 a.C. – c. 50 a.C.) era um poeta e filósofo epicurista romano que, em seu De rerum natura (Da Natureza das Coisas), descreveu o universo como a combinação do vazio e uma coleção de minúsculas partículas semelhantes a átomos em movimento perpétuo (seguindo os seus mestres Demócrito e Epicuro), com o diferencial de ter adicionado a elas um desvio imprevisível, chamado clinamen, que as leva a colidir e compor formas mais complexas.

Tal estrutura não permite a vida após a morte, apenas a disseminação do corpo e da alma de volta às partículas. O imperativo estabelecido por Lucrécio, seguindo os ensinamentos de Epicuro, era que o homem maximizasse o prazer e minimizasse a dor na única vida que lhe estava disponível. No universo de Lucrécio era impensável que os deuses, absortos nos seus próprios afazeres, tivessem algum interesse nos assuntos humanos. O homem era livre para seguir seu próprio caminho.

Einstein, em suas correspondências, realiza uma introdução ao pensamento de Lucrécio, a qual segue abaixo com as devidas vênias por eventual má tradução do idioma alemão:

Introdução a Lucrécio

PREFÁCIO

Para qualquer pessoa que não esteja totalmente imersa no espírito de nosso tempo, mas ocasionalmente se sinta como um espectador em relação ao seu mundo e especialmente à mentalidade intelectual dos contemporâneos, a obra de Lucrécio exercerá seu encanto. Aqui se vê como um homem dotado de interesse científico e especulativo, com sensibilidade e pensamento vivos, concebe o mundo, alguém independente que também não tem ideia dos resultados da ciência natural atual que nos são ensinados na infância, antes de podermos conscientemente ou criticamente enfrentá-los.

Deve causar uma profunda impressão a firme confiança que Lucrécio, como fiel discípulo de Demócrito e Epicuro, deposita na compreensibilidade, respectivamente, na conexão causal de todos os acontecimentos mundiais. Ele está firmemente convencido, a ponto de acreditar que pode até mesmo provar, que tudo se baseia no movimento regular de átomos imutáveis, aos quais ele não atribui outras qualidades além das geométrico-mecânicas. Diz-se que as qualidades sensoriais do calor, do frio, da cor, do cheiro e do sabor remontam aos movimentos dos átomos, assim como todos os fenômenos da vida. Ele pensa que a alma e o espírito são formados a partir de átomos particularmente leves, atribuindo (inconsistentemente) qualidades particulares da matéria a caracteres experienciais específicos.

Ele tem como objetivo principal do seu trabalho a libertação das pessoas do medo servil causado pela religião e pela superstição, que é nutrido e explorado pelos sacerdotes para seus próprios fins. Certamente ele se preocupa com isso. Mas ele parece ter sido motivado principalmente pela necessidade de convencer os seus leitores da necessidade da visão de mundo atomista-mecânica, mesmo que não ousasse dizê-lo abertamente aos seus leitores romanos, que eram provavelmente mais práticos. Sua admiração por Epicuro, pela cultura e pela língua grega em geral, que ele coloca bem acima do latim, é comovente. Os romanos devem ser elogiados por permitirem que isso fosse dito. Onde está a nação moderna que nutre e expressa tal nobre sentimento em relação a uma contemporânea? Os versos de Diels são tão naturais que se esquece que se está diante de uma tradução.

Berlim, junho de 1924.

Albert Einstein

Eventualmente editarei esse texto para acrescentar alguns trechos do Da Natureza das Coisas.

Escrito por Sirius